terça-feira, 4 de março de 2008

A moça do BBB

Ela olha para o mundo como quem quer entender um trauma. Algo ocorrido na infância. Um pai bêbado que batia seguidamente na mulher, ou então, um irmão que se foi, atropelado, naqueles bairros pobres onde as crianças brincam próximo à rodovia.
Ninguém sabe. Ninguém que eu conheça saberia dizer. Mas o que se pode ver é que há uma perda em seu olhar, perda daquelas que nos estilhaça, e que nos obriga a um silêncio dolorido, durante um período. No seu caso, no entanto, o silêncio veio e ficou. E ficou de tal forma que mesmo quando ela fala, o silêncio está lá, significando tudo o que ela diz. O silêncio está lá como uma margem do dizer, um limite sempre visível, mas nunca intransponível.
O silêncio... O trauma... Ocorre que ao lado disso, há uma inteligência muito aguda naquela moça, uma sabedoria de velha que se esconde em suas frases mal formadas (as quais motivam o riso dos idiotas). Ah! Os idiotas não conseguem mesmo ver isto, esta sabedoria que soa cruel e seca.
Qual idiota deseja isso para perto de si? Qual idiota é capaz de ver naquela moça algo mais do que uma nordestina que fala engraçado e que, por isso, nunca é ouvida em sua aflição?

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