quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tropeço

Ha tropeços na minha vida, é claro.
Mas não há mais poço.
Há quem possa com isso?
E eu?
Aguento o tranco de não ser mais aquele da fossa?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cantina 605



O nosso crítico de alta gastronomia e baixos custos, Silas Monteiro, vem essa semana com uma dica especial para os amantes da boa carne... Cantina 605! ÊBA!
A famosa churrascaria (nem tão famosa assim, entre os que ainda não cruzaram o limite da terceira idade) fica nos arredores da Amador Bueno, e por isso mesmo está incrustada na charmosíssima baixada ribeirão pretana.
Pois bem, para aqueles que nutrem algum tipo de preconceito contra esta bela - porém injustiçada - região de nossa amada cidade, aqui vai um aviso!! A Cantina 605 não deixa nada a desejar às churrascarias localizadas nos boulevares ou altiplanos de Rib Preto. Aliás, muito pelo contrário.
Contando com um serviço à la carte de prima, a Cantina 605 dispensa o serviço daqueles garçons de rodízio com cara de fome, que passam com espetos afiados oferecendo verdadeiros torrões de boi. Não, na cantina 605, tudo soa como nos velhos tempos... O terno dos garços... O público (formado basicamente por vovôs e vovós)... O silêncio... O pãozinho com manteiga na entrada... E a velha e boa maionese com mostarda, preparada todas as manhãs pelo maioneseiro Eustáquio. Sim, a maionese! A maionese é um caso à parte, minha querida! E as carnes são sempre suculentas e saborosas, independentemente do corte.
E aí? Gostou do "independentemente"? Então apareça por lá!
Ah... se tiver com um troco a mais, Silas Monteiro (o nosso boca santa) indica também a sobremesa de sorvete caseiro produzida pelo chef-sorveteiro Antenor. Perfeita! Parabéns Antenor! Parabéns Eustáquio! Parabéns Cantina 605!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

À procura

Eu que tanto me espezinho, que tanto me maltrato, que me dou lixo, sangue contaminado, asfixia. Eu que me afogo na pia. Agora, me vejo neste lugar novo, procurando pessoas gentis que saibam escutar o que o outro tem a dizer sem grandes atropelos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Tenda árabe



O nosso crítico de alta gastronomia, Silas Monteiro, dono de uma das mais sofisticadas papilas gustativas desse "mundão de meu Deus" realizou uma incursão nada proveitosa pelo restaurante Tenda Árabe, situado nos arredores da avenida dos Portuga, aqui, na cidade de Ribeirão Preto.
De acordo com a nossa referência em comer bem pagando pouco, o arroz com lentilhas dos ditos seguidores da tradição (arabesca ou arábica?) estava visivelmente requentado, quando de sua visita. E mais! A Berinjela mais parecia salmora! Ora, ora, ora... Quem pode com tanto sal e com arroz do dia anterior?
Tudo bem... No recanto de seu lar, o chef Silas Monteiro (seguindo os preceitos da sustentabilidade) até se permite reaproveitar o arroz do almoço na janta, preparando aquele, já clássico, arroz sapecado com restão de geladeira. Mas pagar 18 reais por isso?
Façam-me o favor, meus senhores!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Desafio teatro

Tem coisa mais desconfortável do que ver monólogo chato, sentado em cadeira desconfortável, ao lado de um grupelho de estudantes de ar-tes cê-ni-cas, que dão risadas cê-ni-cas, e que ficam pontuando a peça com comentários ultra-inteligentes que só um profundo conhecedor de ar-tes cê-ni-cas é capaz de fazer? DUVIDO!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

LUTO

As pessoas legais ficam de luto, experimentam o tempo da perda, carecem do tempo do recolhimento, e não andam por aí fingindo, da forma mais ridícula possível, indiferença frente às faltas, aos buracos, às ausências. As pessoas legais ficam de luto porque entendem, de uma maneira ou de outra, que o luto é condição da fruição que virá depois. É condição da alegria, do entusiasmo e da produção! Por isso, o luto. É que as pessoas legais produzem, e essa produção não decorre senão do reconhecimento da perda, da falta, que um desenho, um filme, uma poesia, uma música, ou qualquer outro ensaio de beleza vem tentar preencher, sem nunca alcançar plenitude, é claro. Acho que vocês sabem do que estou falando, pessoas legais que são.
Já os chatos - no que diz respeito à morte - assumem outra posição. Pra começar os chatos não percebem a morte senão quando se deparam com um presunto. São pequenos, tadinhos! E fazem questão de conservar a miopia que os mantém na mesma rota: os mesmos lugares, as mesmas queixas, a mesma lenga-lenga do mundo contra mim! Ui! Como os chatinhos sofrem! Como são perseguidos pela sociedade, pelo pai, pela mãe que se esqueceu de comprar iogurte, pelas mulheres que, afinal de contas, não entendem uma pequena traição ou pelos homens que nunca ligam no dia seguinte! Ai! Ninguém me liga no dia seguinte! Ninguém me atende! Ninguém me entende!
As mesmas queixas... Ai... Como sofrem esses chatinhos e inhas! E como estão estacionados nesse sofrimento irritadinho, nesse sofrimento birra, daqueles que abaixam as calças e ficam pulando em cima, abrindo berreiro.
Hey! Está aí uma diferença, meus queridos. A dor e o sofrimento das pessoas legais - isso eu já disse, e vocês naturalmente já sabem, pessoas legais que são - é condição da fruição que virá depois. Já nos chatos... Bem... nos chatos, a dor ( se é que é possível falar em dor sem diminuir o alcance e a dignidade desse termo) é condição de... é condição de repetição. Uma queixa levando a outra e a outra e a outra.
Obs. Uma parte desse texto é dedicada aos amigos Shara e Amir.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Crueldade em três atos

Ninguém em sã consciência poderia negar isto: aquela caixa do supermercado era realmente muito lenta.
Tão lenta que, durante o meu longo período de espera na fila, tive tempo de planejar três pequenos atos de crueldade envolvendo a dita.
No primeiro deles, que surgiu depois de vinte minutos de espera, eu trocava o açúcar pelo sal, e gentilmente lhe servia um suco de laranja devidamente "açucarado".
- Esse foi feito especialmente para a senhorita!
No segundo ato, eu, sorrateiramente, colocava pimenta aos rodos em sua comida e lhe retirava qualquer possibilidade de refresco.
- Puxa, como o dia está quente, não achas?
No terceiro e último ato, que me veio à cabeça um pouco antes de ser atendido - o que deve ter acontecido depois de uma hora de espera na fila - eu me aproveitava de um cochilo daquela adorável funcionária e cortava-lhe o lindo cabelo cumprido de crente, com uma tesourada só! Zastrás!
- E então, marmota? Ainda achas que vais adentrar ao reino dos céus?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Desespero em um ato

Devia haver desespero naquela mulher. Caso contrário não teria feito o que fez... Colocar cabelo em minha comida... E logo no prato que eu mais adorava.
A porção de batatas veio depois de uma briga feia entre o pai e a mãe. Eu - não me lembro por que - havia tomado o partido dele, e então ela fez o que fez.
Mas precisava ser tão?... Devia haver desespero.
Foi me dando essa explicação que tentei acomodar as idéias.
Mas isso, é claro, se deu depois de anos, passados vários anos do acontecido. Na hora não pude fazer outra coisa senão comer. Comer tudo, atônito. Aquelas batatas todas repletas de fios de cabelo arrancados no cubículo da cozinha. O que será que ela estava a me ofertar? Desespero...
Isso tudo - repito - não pôde ser pensado na hora, embora já tivesse em mim a sensação de erro. Foi com o passar do tempo, no entanto, que o erro se agigantou, ganhando proporções de um tumor. E era terrível de se ver. Foi, é e será terrível de se ver.
Fosse hoje teria tentado interromper o movimento devastador daquela família. Não se pode viver assim, meu Deus! - gritaria.
Mas na hora... Na hora só tive condições de comer aquelas batatas todas. E depois permanecer calado por mais alguns anos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Amorzinho de hospital

Por que você só aparece quando estou mal
Quando estou à beira da morte
Carcomido, sofrendo horrores?
Qual é?
Amorzinho de hospital!

Por que não dá as caras quando brilho em minhas aulas
Quando assino meu nome - sem borrão - no pé das minhas telas
Ou então,
Quando deixo de lado minha tribo dos penosos pra virar cidadão do mundo?
Amorzinho afeito aos restos?
Amorzinho perdidamente apaixonada pelo pior de mim?


Qual é?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Edição Limitada



Tendo realizado pesquisa exaustiva em torno das bolachas Wafer disponíveis no mercado nacional, o Instituto FatosdaLíngua vem a público divulgar que a de chocolate da marca Visconti é, sem dúvida nenhuma, a que apresentou maior índice de aceitação por parte das papilas gustativas do nosso Gourmet, chef e crítico gastronômico Silas Monteiro.

O Instituto FatosdaLíngua também tem o orgulho de divulgar que o suco da marca Tang lançou uma edição limitada com sabores especialíssimos. O de abacaxi com maracujá conta entre aqueles que mais agradou nosso crítico.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ossinhos de giz

Creio que inspiro cuidados. Vejo isso nos olhos dos outros: destes que desconfiam da fragilidade dos meus ossos. Ossinhos de giz que hoje estão quebrados, e com os quais escrevo isso aqui.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Minha solidão não é casa vazia

Minha solidão não é casa vazia, porque a campainha e o telefone não param de tocar.
Não é solidão de bar também porque sempre encontro algum estranho com quem posso falar sobre a vida que tive em outra cidade e sobre a vida que tenho neste lugar.
Minha solidão não é a daquele que, por uma razão ou outra, se desgarrou da família e, na véspera do natal, se vê só, em uma pensão barata, comendo restos do dia anterior.
Minha solidão é solidão do desejo: solidão de desejos mudos. Ou melhor, solidão de quem mumifica desejos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009


Quem diria? Tobias Flávio, o nosso paparazzo de plantão, está de volta! E com um registro fortíssimo nas mãos! Advinhem...
Isso mesmo! O dono deste blog foi apanhado (mais uma vez!) pelas lentes sorrateiras do nosso intrépido repórter!
Agora, depois de aparentemente ter errado a mão no uso de substâncias ilícitas, o responsável por esse blog foi encontrado em uma comunidade hippie, no interior das Minas Gerais. Quem diria?
O registro de Tobias não deixa dúvida. Repare no sujeito dançando alucinado ao fundo da imagem, próximo à barraca branca. Não é ele mesmo, o incauto, que, vez por outra, deixa sua besteiras registradas neste espaço?


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Receita para solidão


Para vc que - como eu - mora só... Quando a solidão apertar, o telefone parar de tocar, os e-mais deixarem de aparecer, as visitas cessarem... A receita é...: abra mão da fronha! Coloque uma camiseta no travesseiro e bata um papo ao pé do ouvido do seu mais novo amigo!

terça-feira, 14 de abril de 2009

FRIENDS

Gosto do frio lúgubre
E, no entanto, tenho amigos lindos.
Sou fisgado pelo amargor, pela indiferença, pelo beijo apavorado e pelo afago que nunca se completa.
E, no entanto, ainda assim, tenho amigos lindos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pra quem dança de sunga...
http://www.youtube.com/watch?v=2zozfL2vf-U&feature=related

USE SUNGA

As cuecas já não me pertencem mais. Agora só uso sungas de nadar. É... Descobri isso por acaso. Faltou cueca limpa (ou mais ou menos limpa) em casa e aí pus uma sunga, em substituição. Foi a revelação, minha querida! A sunga me colocou em um estado de espírito tão interessante (!), que...
Sabe o que é? Tenho a impressão de que a qualquer momento posso tirar a roupa e entrar em uma psicina ou no mar! A impresão de que estou mais disponível e isso é ótimo. A impressão também de que estou mais preparado para as surpresas boas da vida. Uma vez, isso já faz alguns anos, estava na festa de aniversário da minha querida ex-mulher e todos decidiram entrar na piscina lá pelas tantas da madrugada. Foi lindo, mas estava com uma cueca tão horrorosa que brochei. Fiquei de fora, hoje não fico mais! Sou o primeiro a aceitar a proposta, sou o primeiro a tirar a roupa e a me lançar na geléia geral!

Tanquinho

Há aqueles que imaginam uma casa espaçosa e feliz, com uma varanda cheia de filhos. Há aqueles que pensam em carros luxuosos, muita grana e mulheres gostosas disponíveis. Meu projeto por hora é a barriga tanquinho, e se possível, ombros musculosos. Por isso, minha querida, 3 vezes ao dia faço sequências de abdominais 4 de 30 e flexões de braço 4 de 15. Assim que chegar lá, prometo postar as fotos desta beldade que inventa modas pra deixar a vida mais divertida, ou quem sabe, menos insuportável.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Rico ao volante I

Tenho me divertido muito ao volante, vivendo vários personagens. Hoje, por exemplo, saí de casa como senhor-cautela. Vocês já devem ter trombado com ele por aí...
O senhor-cautela nunca passa no amarelo - para o desespero dos "apressadinhos" - e sempre respeita as indicações (muitas vezes, impraticáveis) de velocidade das placas.
O senhor-cautela, às vezes, vacila. É... Anda entre duas pistas e segura a avenida. Mas, acreditem! Isso é parte de sua missão! Não deixar que o trânsito flua com a velocidade indesejada. Desse modo, o senhor-cautela promove pseudo carreatas. Não é uma graça, esse vovô? Ah... Não tente buzinar para o senhor-cautela. Ele está tão concentrado em si mesmo que não vai ouvir, e se ouvir, jamais vai achar que é o alvo do biii biiiiii!
O mais divertido é ver a expressão dos "imprudentes" que conseguem passar pelo senhor-cautela. Ódio! Ódio! Ódio! O senhor-cautela não liga, permanece concentrado em sua missão, volta para o meio da pista e segue em frente, obedecendo a velocidade das placas!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Meus amores

Tive (fiz) um sonho que me mostrou que o lugar onde me encontro é bem diferente do lugar onde imaginava estar. Triste desencontro... (D-ex) en-con-tro. Sabem o que é isso, meus amores?

Pra quem quiser dançar...

http://www.youtube.com/watch?v=i2DM2z2Cj3U

Retorno ao culto

Depois de se manter por um longo tempo longe dos cultos, o dono deste blog (e ex-professor de filosofia) foi capturado pelo nosso paparazzo Tobias Flávio, em um momento de prece intensa. É... Meus amores. Ele fraquejou novamente! E as lentes do nosso intrépido colaborador não deixou de registrar mais essa recaída. Notem bem: ao fundo, próximo ao extintor. Não é ele mesmo?
Obs. O nosso paparazzo de plantão nos enviou junto com a foto uma nota explicativa: os fardados se justificam porque o culto é promovido pela UMESC - União dos militares evangélicos de Santa Catarina.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Eu mesmo

Pessoas há que batem no peito, transbordando de orgulho, para soltarem a seguinte pérola: eu sou muito eu mesma. Sempre sou eu mesma!
Ora, quem disse que é nobre, valoroso e útil jamais deixar de ser o que é, querida leitora?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Calma aí, Vó!

Minha avó caiu. Talvez não levante nunca mais. Caiu em casa, de madrugada. Passou a noite no chão, para ser acudida pela manhã.
Minha avó fazia pastel, o melhor. Fazia esfiha, a melhor. Quem pôde provar, sabe. Agora, ela toma remédios e a família faz vaquinha pra comprar. Família... Dizendo assim, até parece que há uma. Não. Não há. O que há é minha avó deitada em uma cama de hospital que agora está estranhamente situada em seu quarto, o mesmo onde eu dormia quando decidia ficar por ali. O que há é minha avó sofrendo horrores por uma causa mais do que perdida: a vida.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

torrada com maionese

Hoje comi uma torrada com maionese que me levou para a infância. Um tempo em que ia nadar na casa dos avós do meu melhor amigo. Que delícia nadar e depois sair da piscina para, com as mãos ainda molhadas, pegar aquelas torradas servidas pela avó. A maionese nunca vinha demais. Incrível! A avó parecia ter a medida. Mas nem tudo era harmonia ali. Havia o olhar da avó sobre mim. Um olhar de “você não é meu neto”. É... Isso eu sentia. Havia uma diferença, uma palavras, umas expressões que me levavam a crer que as torradas eu podia comer, mas que não me entusiasmasse demais. Senão... Havia uma diferença. Mas por que não haveria? Provavelmente eu a olhava com um ar de “você não é a minha avó”. Em todo caso, noto que havia sim uma crueldade naquela gente, ou ao menos um jeito que não reconheço como sendo o meu, porque na minha casa o sujeito que não se entupir de comer torrada com maionese tem de se haver comigo, e com a minha generosidade autoritária!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DOCE

Você é doce. Mas isso não que dizer que não haja veneno em você. O veneno é nosso: teu, meu e de todos! Por isso, seria bobagem crer na pureza, tenha isso o sentido que tiver. Seu doce, minha querida, não se explica por uma ausência, uma privação daquilo que há de feio em você. Seu doce se explica por aquilo que fazes com o amargor. Dança doida e feliz por ter um corpo, fala aberta que irrompe e traz incômodo, olhos cerrados em sinal de entrega, dedinhos que se cruzam em sinal de reconciliação, abraço prolongado de horas a fio, gosto pela felicidade compartilhada.
Digo e repito: és, sim, doce, muy doce!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O nome importa!

Hoje descobri uma coisa que vocês muito provavelmente já sabem. A descoberta, meus caríssimos, é que o nome importa! Sobretudo, se o nome em questão for o da secretária!
A secretária, você sabe, pode acabar com sua vida, pode emperrar pagamentos, causar danos irreversíveis em seus trabalhos e por aí vai. Pois bem, havia uma dessas na minha vida. Uma mulher azeda dessas que te olha diariamente com cara de segunda-feira (até mesmo na sexta!), e que faz de tudo para não fazer nada por você.
Mas os meus problemas acabaram!!!!!!! Meus problemas acabaram depois que, em um momento iluminado, eu pronunciei as seguintes sílabas mágicas: Pa - trí - ci - a!
Ah! Tudo, absolutamente tudo mudou, minhas queridas!
A mulher que era o cão virou um doce e agora tudo transcorre com vaselina. Os depósitos caem, os trabalhos rolam, os e-mails chegam. Coisa de louco! Experimente você também! Ah! uma coisinha: não queria que vocês ficassem com a impressão de que eu sou arrogante ou mal educado. Sou gentil! Mas tenho problemas em decorar nomes, por isso tinha problemas. Quer dizer, ainda tenho. Mas se Deus quiser, não mais com secretárias! A partir de agora é assim: Deus no céu, e os nomes das secretárias na terra!
Ok, Patrícia?

10 Contados

Céu, a bela, cantando com um dos caras que mais gosto de ouvir, Moska.
Beijinhos e até!
http://br.youtube.com/watch?v=YCD5MmU0qf4

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Se oriente rapaz!

Se oriente rapaz, pela constatação de que a aranha vive do que tece, vê se não se esquece!
http://br.youtube.com/watch?v=hLl9WNQvZH0&feature=related

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Parte de mim

Não por acaso, seus textos estão sobre a minha cama. É que a delicadeza, a franqueza e os mistérios que deles se desprendem, a beleza e a dor que há neles e em você, já fazem parte de mim, já estão um pouco aqui, comigo, neste quarto vago, neste lugar onde me encontro, e onde você adentrou lindamente com sua bermuda jeans e suas alpargatas azuis 36

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sim, respeitável público! Depois de tentar levar adiante a empreitada de dar aulas de filosofia, e de se frustrar irremediavelmente com essa vã atividade, o dono deste blog, agora, foi visto atuando como equilibrista em um circo no interior do estado da Amazônia. Detalhe: o nosso paparazzo (Tobias Flávio), responsável pela foto e pelo furo de reportagem, nos informa também que, no período do Festival Folclórico de Parintins, o ex-professor atua como figurante de boi-bumbá.
Não é um charme esse sujeito?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Olhares

A paixão desperta olhares. Olhares céticos, daqueles que se reúnem em volta da mesa para discutir por quanto tempo ele e ela ainda vão permanecer atarracados. Olhares empobrecidos, destes que com ares de sabedoria dizem o seguinte: aproveitem! aproveitem, pombinhos, porque isso logo logo vai mudar! E mais: vai mudar, não para se transformar em outra coisa igualmente viva. Isto que hoje pulsa, decretam estes, irá se converter em tédio!
Ah! Mas há também aqueles que lançam olhar de cumplicidade! Olhar geralmente que vem de pessoas que sabem reconhecer que a paixão é uma disposição dos corpos e que ela - a paixão - por vezes, implica em uma ruptura com os outros e consigo mesmo.
A esses, devolvo um olhar de acolhimento, como se quisesse lhes dizer mais ou menos isto aqui: hey, podem contar comigo! Vocês fazem parte da minha turma, do meu time. Estou com vocês e não abro!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Soraiando

Quem diria, grande Bandeira? A estrela da manhã que tu tanto procuraste em vão, eu a encontrei! Linda, leve, doce e simples.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Bolacha sabor tristeza

As bolachas têm importância na minha vida. Elas sempre aparecem nos momentos de grande susto ou de profunda tristeza. Ontem, foi a Bono quem deu as caras por aqui. Bono sabor morango, morango sabor susto, susto sabor tristeza, tristeza sabor vamos em frente, vamos em frente sabor passado, passado sabor orgulho.
Ontem, em nome de tudo isso, abri o pacote e comi duas, uma de susto e outra de tristeza, uma para mim e outra para o meu ex-amor.
Mas o que é isto, ex-amor? Vou lhes dizer... Ex-amor é um amor que saiu para passear, dar uma volta por aí, e que, de repente, se perdeu de fascínio pelo mundo, deixando no outro a sensação de que tudo mudou e de que nada mudará. Será?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

LENDA

Linda essa versão. Dêem uma conferida.
http://br.youtube.com/watch?v=aA6ome0TWd4

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Muuuu



Fui repreendido assim: hey, sua voz está metálica! Você mais parece um robô! Respondi: pra que ter alma se alma é um troço doloroso? Não. Prefiro ser máquina. Ou então, bicho. Quem sabe um boi? Muuuu. Um boi que vive pastando e que, de uma hora pra outra, entra sem saber em um corredor estreito onde, ao fim, receberá uma martelada na cabeça.

Ruim? Que nada... Melhor do que ter alma. Alma dói, machuca. Pra que ter alma? Não. Quem tem alma, sonha, e os meus sonhos têm sido horrorosos. Por exemplo, ontem durante o dia optei por ficar sem alma, desalmado, e tudo correu bem. Meu único trabalho foi pensar em matar pernilongos. Quando dormi... Ah... Quando dormi a alma veio. Porque quando a gente dorme, a gente sonha e a desgraçada da alma aparece. Pronto. Pessoas pulando de edifício em chamas e morrendo na minha frente. Pessoas se contorcendo com pernas e braços deslocados, olhos revirando... Gente transfigurada! Não! Alma dá o que falar! E agora tô querendo é silêncio. No máximo, um mugido: muuuu.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

BEBA COTUBA!


Definitivamente minhas práticas gastronômicas estão cada vez mais sofisticadas. Depois de (no almoço) provar o tempero do belíssimo restaurante CASABLANCA - onde, aliás, se pode comer o ovo frito mais encharcado de óleo que já vi - agora, no jantar, tenho a grata oportunidade de me deliciar com: Baconzitos + Cotuba.
Ah! Cotuba! Quem te conhece não esquece jamais!

sábado, 9 de agosto de 2008

Chegam até a nossa redação, informações quentes de que o dono deste blog foi visto vestido de palhaça, animando festas infantis no interior do estado de São Paulo! Depois de tentar, e de não se dar bem, na carreira de professor, o autor do blog fatosdalíngua teria se enveredado para o ramo artístico do entretenimento. Vejam! Não é ele mesmo que está aí vestido de rosa tentando manter a naturalidade diante da comoção popular e dos flashes do nosso paparazzo Tobias Flávio?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Este, sim, sou eu

A única coisa que lhe peço agora, meu amor, é isto: um pouco de silêncio. Você que sempre me deu tudo de si.
Esqueça, por favor, do dinheiro que lhe cobrei por despeito. Pois para mim, o que está em jogo mesmo é a sua e a minha felicidade, não essa feia contabilidade.
Faça o seguinte: pegue o dinheiro e me dê deste jeito. Compre tapetes para sua casa, compre talheres novos, taças, vinho, vodka, peixes, azeite. Vá até a Zara e se mate de comprar roupas, ou então viaje para onde desejar.
Você que sempre me deu tudo de si não me deve nada! A não ser isto: um pouco de silêncio.
Nossa história foi bonita, interessante e rica, muito rica! Por que, então, cair na besteira, agora, de te deixar pobrezinha cobrando o que não é meu?
Não. O que eu quero mesmo é isto aqui: fique cada vez mais bela e rica daí, que eu fico cada vez mais belo e rico daqui. Tá?
Este, sim, sou eu.
Beijos

quinta-feira, 17 de julho de 2008


Os nossos repórteres de plantão acabam de me passar a informação quente de que o dono deste blog foi, sim, visto tomando cachaça no Mercado Central de Belo Horizonte, capital mineira que é, carinhosamente, conhecida por BH ou Belô. De acordo com o nosso paparazzo mineiro, Tobias Flávio, o dono do blog fatosdalíngua além de se embebedar com pinga e tequila mineira, teria experimentado diferentes quitutes oferecidos no local, dentre os quais, destacamos a broa e o queijo canastra.
Vejam se não é ele no canto esquerdo da foto, de costas para a câmara, numa tentativa vã de escapar do nosso enviado mineiro?

A vida não é sussa

A vida não é sussa,
é SUS:
Pedra (de rim) no meio do caminho (da uretra)

A vida não é massa
é má, dura:
Pedra (de estilingue) no meio do caminho (de um bem-te-vi)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Minha passagem (será só passagem?) por belô

O primeiro foi o hotel Magnata! Paguei pelo apartamento, e pela TV. Só que a TV não funcionava. Ganhei desconto, então. 5 Reais! O segundo foi o Hotel Madrid. Justiça seja feita: nesse a TV funcionava! Só que o controle havia sido roubado, conforme me disse o recepcionista.
- Vou lhe dizer uma coisa... Há controles que vão parar até em Tocantins - disse-me, como se Tocantis fosse o lugar mais longínquo dali.
Ah! Uma questãozinha: alguém sabe me dizer por que os hotéis baratos têm todos o mesmo cheiro?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

- E o dono deste blog? Alguém viu?
- Ãhã... O dono deste blog foi flagrado por nosso paparazzo, Tobias Flávio, na manhã desta quarta feira. Vejam só! Ele estava brincando de quebra cabeça de 12 peças, na escola Caracol. Não é ele mesmo?

Silêncio

Já tinha intuído isto, mas foi só quando li um artigo do Calligaris que pude dar corpo a esta idéia aqui: o silêncio - frequentemente visto como manifestação de indisposição para o diálogo - pode ser lido como uma atitude de respeito frente à complexidade do mundo e das relações que estabelecemos uns com os outros.
Evitemos a verborragia, sobretudo a verborragia amorosa, e façamos um pouco de silêncio, então.

Roads_Portishead

http://br.youtube.com/watch?v=Vg1jyL3cr60
Vá lá, mas não se perca: volte!

Escuta

Há pessoas que não sabem pedir ajuda. Então reclamam, reclamam, reclamam.
Hoje, nesta noite de segunda, descobri que meu pai é um desses seres que se queixam à exaustão, ao invés de pedir socorro.
- Filho, acordei às 3:00 da manhã e não consegui mais dormir. Fiquei pensando, pensando.
- Pensando em quê, pai?
- Pensando na minha vida, na minha vinda do nordeste, na morte do meu pai, no meu casamento, em tudo. É duro...
- Pai, por que você não procura um psicólogo ou psicanalista? - disse, como nunca antes.
- Psicólogo?
Há pessoas, querida leitora, que não sabem pedir ajuda, mas respondem prontamente desse lugar, quando devidamente escutadas em suas aflições.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Dance!

http://www.youtube.com/watch?v=O9Loe3XM7v0
http://www.youtube.com/watch?v=YVRxiLAheoY&feature=related

- E aí? Alguma novidade sobre o dono deste blog?
- Há informações seguras de que ele anda frequentando raves em Ibiza, apesar de ter salário de professor.
- Será mesmo?
- Não duvido...
- Mesmo com a hora-aula de 7,89?

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Segundo de sabedoria

É preciso que o amor, minhas queridas, seja um convite assim: hey! venha ver o que há de interessante em minha vida!
Pois, enquanto o amor for a única saída, lugar para onde se corre quando se está em risco, ele será morte lenta, encontro de adoecidos que se completam na doença.

Vozes

Várias vozes falam em mim
Foi o que me disse Bakhtin
Disse assim: a voz da sua mãe que fala em você - sem você saber - é ruim.
Disse também outras coisas, esse russo, como esta:
A voz do teu pai que te habita e te atravessa - sem você saber - é funesta!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Significante 1

Não pude deixar de notar que o amor se foi da boca do meu amor, restando o "querido", isto é, tudo aquilo que um dia alguém já quis muitíssimo para perto de si.
- Oi, querido! - ela, agora, diz.
Continuo respondendo assim:
- Diga, meu amor!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Tristinho

Decidi ir embora mais cedo, embora uma parte de mim dissesse assim: "fica mais um pouco".
Acho que agi com acerto. Pois a parte que me pedia pra ficar, falava de um lugar onde a tristeza é muda, e a parte que dizia "vai" falava de um outro lugar, onde a tristeza resulta em lista de coisas a fazer.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Silêncio ruidoso

Quando tinha menos fios de cabelos brancos em minha cabeça, uma moça me disse que o meu silêncio era ruidoso.
- Hey, seu silêncio é ruidoso. – disse ela, num dia em que bebíamos vinho.
Imediatamente franzi a testa.
- Ruidoso? Como? – pensei, tonto pelas taças.
Até hoje não sei se a compreendo bem. Mas o fato é que essa história me veio à memória hoje, enquanto caminhava pelo centro velho desta cidade. É estranho, não? Por que será? Por que será que essas coisas antigas retornam assim, sem bater na porta?
Vai ver que é pra nos lembrar que o passado é como o meu silêncio: ruidoso. Ruidoso como aqueles vulcões que permanecem adormecidos durantes anos, décadas, séculos; e um belo dia acordam para regorgitar lava.

Questões que intrigam a humanidade desde sempre

Por que sempre há água empoçada na esquina da rua Barão de Amazonas com a Rui Barbosa, na cidade de Ribeirão Preto?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A Bailarina e o Pierrot

Veja só: você serelepe, e eu grave. Não podemos mesmo ficar juntos neste instante, porque o seu sorriso é aberto desde sempre, e eu só agora é que começo a mostrar o dentes. Serão dentes fortes, eu lhe prometo. Dentes que irão morder frutas saborosas como você, minha bailarina.
Mas que minha, se já tens asinhas?
Veja só: eu, por enquanto, vou ficar aqui embaixo, e pra ser sincero, bastante triste. Mas você sabe: também sei ser serelepe, e embora o mundo seja grande e deslumbrante, podemos nos reencontrar. Podemos nos reencontrar em um daqueles bailes de máscaras...
- Meu Deus! - você dirá. Quem é esse pierrot tão encantador, e por que será que me olha com tanta insistência e com tanta ternura nos olhos?

quarta-feira, 21 de maio de 2008





- E o dono deste blog, meu Deus? Onde é que ele se meteu agora?
- Ouvi dizer que ele anda frequentando cultos no interior do Estado. Não sei, não...
- Eu sempre desconfiei desse sujeito...
- ÔPA! Espera aí! Não é ele que está de gravata na porta da igreja?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu e eles

O que mais me incomoda neles é a falta de espaço para o triste. Aquelas frases bem intencionadas, mas profundamente inoportunas: hey, venha com a gente! Não vale a pena sofrer por isso!
Urgh! A falta de espaço e a falta de tempo para o triste é o que mais me decepciona. Uma tentativa débil de te convidar para dançar com as pernas quebradas, ou de esconder silêncio com gritaria. Urgh!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Forte-fraco

Não foi por acaso que comprei bolachas passa-tempo no supermercado, às 14:00 desta quinta. Estou sofrendo horrores e dizem que ele, o tempo, é o melhor remédio nesses casos. Tudo, absolutamente tudo dói em mim.
Não por acaso também me sinto mais humano. Deixei de andar por aí fingindo ereções e fissuras, e agora estou forte-frágil.
Ah! Também choro agora. Choro muito.
Aliás, há dois dias atrás chorei na frente de meu pai. Choramos juntos, então.
Este senhor talvez não se permita pensar isto, mas creio que ele me prefere assim: forte-frágil, delicado e dolorido.
- Com este sujeito agora eu posso conversar. Este sujeito agora me vê e eu o vejo também. - diria (ou dirá?).
Nesse caso, não importa se pensa ou se deixa de pensar, se diz ou se cala sem saber. Hoje sou forte-frágil o bastante para me desviar de sua falta de jeito e lhe dar um beijo no rosto sempre que nos encontramos.

quarta-feira, 5 de março de 2008


- Disseram-me que o dono deste blog foi visto neste acampamento de escoteiros.
- Não duvido... Eu sempre desconfiei desse sujeito...

terça-feira, 4 de março de 2008

A moça do BBB

Ela olha para o mundo como quem quer entender um trauma. Algo ocorrido na infância. Um pai bêbado que batia seguidamente na mulher, ou então, um irmão que se foi, atropelado, naqueles bairros pobres onde as crianças brincam próximo à rodovia.
Ninguém sabe. Ninguém que eu conheça saberia dizer. Mas o que se pode ver é que há uma perda em seu olhar, perda daquelas que nos estilhaça, e que nos obriga a um silêncio dolorido, durante um período. No seu caso, no entanto, o silêncio veio e ficou. E ficou de tal forma que mesmo quando ela fala, o silêncio está lá, significando tudo o que ela diz. O silêncio está lá como uma margem do dizer, um limite sempre visível, mas nunca intransponível.
O silêncio... O trauma... Ocorre que ao lado disso, há uma inteligência muito aguda naquela moça, uma sabedoria de velha que se esconde em suas frases mal formadas (as quais motivam o riso dos idiotas). Ah! Os idiotas não conseguem mesmo ver isto, esta sabedoria que soa cruel e seca.
Qual idiota deseja isso para perto de si? Qual idiota é capaz de ver naquela moça algo mais do que uma nordestina que fala engraçado e que, por isso, nunca é ouvida em sua aflição?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Recadinho aos solteiros

Antes de me casar, via o casamento como um oásis, uma ilhota tranqüila, cercada pelas águas turvas e revoltosas da solteirice. Ah! Depois que me instalei nesse oásis... Depois que pus os pezinhos nessa ilhota imaginária... Pude ver que essa metáfora nascia de um grande engano.
A verdade, meus amigos. A verdade verdadeira é que o oásis do casamento é ilusão. Uma ilusão que se desfaz logo, quando percebemos que de dois não se pode fazer um. Eis a grande ilusão! A ilusão de que não há diferenças em jogo, e de que não teremos que lidar com elas. Pois saibam que as diferenças estão lá, meus queridos! Aliás, não é bom que elas existam? Não é bom que eu me veja como alguém diferente e destacável da minha parceira ou do meu parceiro? E não é também saudável que eu me veja como alguém que tem sua própria história e seus próprios desencontros? É... Sem dúvida, isso é saudável. Mas dá trabalho!
Por isso, para não cair do cavalo, o melhor a fazer é não encarar o casamento como colônia de férias. Casamento, definitivamente, não é lugar de descanso, mas de trabalho. Ou melhor, de trabalhos, no plural! O trabalho da tolerância, da generosidade. O trabalho da paciência, daqueles que contam até três antes de abrir a boca, sabe?
Um, dois, três. Parece fácil? OK. Mas e quando as tormentas do casamento te transformam em bomba relógio?
Um, dois, três. Tente chegar ao três sem explodir, tente! O casamento, às vezes, transforma essa simples contagem em missão impossível, meus amores. Por isso, para não quebrar a cara, o melhor a fazer é mudar a perspectiva e deixar de ver o casamento como um lugar tranqüilo para se estar. A tranqüilidade do casamento, em geral, é sua morte, a morte do casamento.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Micos e bebidas

Não costumo pagar mico quando tomo bebida alcoólica. Quer dizer... De vez em quando...
É... De vez em quando, eu extrapolo. Mas também não chego a ser um tsunami.
Talvez um pequeno furacão, sem maiores conseqüências... Algumas casas destelhadas, roupas retiradas do varal, alguns desabrigados.
Nesse fim de semana, o furacão apareceu por aqui. Ou será que foi um vulcão adormecido que, de repente, começou a cuspir lavas incandescentes? In-can-des-cen-tes. Veja só como funciona a tal da associação livre. Incandescentes me fez ir para indecentes.
Mas por que haveria de ouvir indecentes no lugar de incandescentes, se estou a falar dos meus pequenos e fortuitos pileques? Por que haveria de me lembrar da indecência, se não passo de um homem comum que, sendo maior de idade, bebo minha cervejinha socialmente?
Nada a declarar. Voltemos, então, às metáforas. As metáforas do furacão e do vulcão. Que outra imagem caberia no meu caso?
Ora, tsunami. Tsunami? Será mesmo que o excesso de “cervejinha”, tomada “socialmente”, pode fazer de mim um tsunami?
Tá... OK. Um tsunami. Mas um tsunami pequeno, se é que isso é possível. Um tsunami que não traz grandes estragos. Apenas algumas inundações, poucos desaparecidos, rápidas internações.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fase-Feio

Estou na fase-feio. Vocês que não foram agraciados com a beleza das formas, talvez me entendam. Estou naquela fase de correr do espelho, sabe? Aquela fase de achar que o dente é grande demais, que o nariz poderia ser um pouquinho mais fino e que as orelhas não precisavam ter prosperado tanto para as laterais. Estou na fase do desassossego.
Sintoma disso é que ontem, me vieram à memória os tão adoráveis apelidos de infância!
- E aí, castor? Topo Gigio! Topo Gigio!
Ah! Como meu coração se enchia de alegria! Como era estimulante ser comparado a animais desajeitados, personagens bizarros!
Pois é... Na fase-feio, essas feridas retornam com toda intensidade. Esses pequenos traumas... É que na fase-feio a memória trabalha contra, meus amores! Ela seleciona episódios, deleta elogios e destaca constrangimentos. Tudo isso para nos deixar com a sensação de sermos mais feios ainda.
Trata-se, sem dúvida, de um círculo vicioso, uma roda que só gira em direção ao buraco. Feio! Feio! Feio!
Quando estou nessa fase, o melhor a fazer é... Năo há nada a fazer. Na verdade, o melhor é esperar. Aí os dias passam, as tardes caem, e de repente, em uma manhã qualquer, a fase-feio acaba.
Pelo menos é assim que tem acontecido comigo.
Ah! É bom que se diga! Você que se encontra em situação parecida... Não tente apelar para os auto-elogios em profundidade. Não tente, por exemplo, se convencer de belezas interiores, de virtudes morais ou de proezas do intelecto. Năo adianta!
Na fase-feio, tudo isso é nada! Todos esses remendos metafísicos são nada! Na fase-feio, o melhor a fazer é dar um tempo da própria imagem, deixar de olhar um pouco para si, e aí torcer para que um novo olhar tenha lugar.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O coisa

- ... ô coisa.
Foi assim que ela se referiu a mim, em meio aos risos frenéticos do bar. Tive vontade de responder: Coisa? Coisa é a senhora!
Não fiz isso. Até porque, muitas vezes, me pego sendo paranóico. Agi, então, como um não-paranóico – o que acaba sendo a mesma coisa, em um certo sentido. O não-paranóico decide não-dizer nada para não-parecer paranóico. Ótimo! O problema é que a paranóia permanece lá, intacta, em cada olhar, em cada escuta. E foi isso mesmo que aconteceu, no resto da noite. Eu de orelha em pé, pronto para capturar qualquer fala, qualquer olhar que confirmasse a minha impressão de que o outro me via como coisa. Que coisa? Não importa.
O que deu mal estar foi o tom, a entonação com que aquela senhora se referiu a mim. Logo aquela senhora... Ao dizer isso, percebo que a considerava bastante, porque o que ela disse me afetou profundamente, embora reconheça também que qualquer um que me chamasse de coisa ia me deixar contrariado.
Será? Não sei. Não andam me chamando de coisa por aí.
- ... ô coisa.
Não posso - ainda bem - dizer que a palavra do outro me toma por inteiro, mas é inegável que ela me embaraça. O que quero dizer é que, se amanhã alguém me chamar de homem aranha, não vou achar que tenho (ou devia ter) teia nas veias do braço.
Não sou louco! Nem sei se a loucura é isso. Mas que "o coisa" me pegou, pegou. Só não sei qual foi o lugar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Minha vida de co-piloto

Não dirijo. Sempre vou no banco do passageiro. Sempre foi assim. O trágico disso é que desde criança tenho atração pelo volante.
Quando era pequeno, na estrada que nos levava para o clube da cidade, eu sempre pedia a direção a meu pai. Ele cedia. Depois de ter bebido algumas cervejas, e estando todos satisfeitos na volta para a casa, ele cedia. Mas não cedia totalmente, é claro. Nessa época devia ter uns dez anos, ou talvez menos. Por conta disso, ele me cedia apenas a direção, ficando a seu encargo o funcionamento do acelerador e das trocas de marchas. Uau! Até hoje tenho um fascínio pelas trocas de marchas... Mas naquela época isso me tomava o pensamento: qual será a hora exata para se trocar a marcha? – perguntava-me. Ficava verdadeiramente angustiado com essa questão, a ponto de ver nas marchas o grande empecilho para a minha chegada à direção geral.
Hoje posso ver que meu pai não sabia a hora exata. Pelo menos, hoje em dia, ao vê-lo dirigir, tenho a impressão de que ele nunca soube achar a hora exata de trocar as marchas.
Confesso que não percebia isso quando dirigíamos juntos. Quando dirigíamos juntos, o carro não parecia nem precisar de marchas.

Histórias do ponto II

Nunca tinha visto um cego tão descuidado ou desajeitado. Tropeçou na quina do canteiro, depois meteu a vara, digo, bengala, na cara de uma menininha que passava pelo ponto. A mãe nitidamente viveu instantes de aflição. Estou no ponto? – perguntou o cego. Está – respondi. Não queria conversar com aquele homem, mas depois da minha deixa... Você mora aqui no Centro? – perguntou-me. Moro. Moro na rua Boaventura do Amaral – disse, em tom neutro, procurando demonstrar a minha falta de interesse em levar aquilo adiante. Ah, é? – disse ele, revirando os olhos. Tem um monte de muié gostosa nessa rua, não tem? Respondi que sim. Mas... Minha rua é como as outras do centro, nada demais. Aliás, não é bem assim. Bem em frente de casa tem uns travestis que se prostituem e dão gritinhos de quando em quando. Veja só a ironia: “um monte de muié”. O cego então começou a falar mal de um sujeito que gritava em uma espécie de megafone. Esse cara é um bosta! – disse. Lembro-me de um dia – continuou – que esse babaca do megafone levou uma surra! O cego disse isso com um prazer estranho. Ele sorria, sorria com ódio ou rancor. Enquanto o observava contando esse pequeno fato, expliquei pra mim mesmo aquele rancor pela via da cegueira. Pensei: ele deve ser assim porque não aceita ser cego. E então conclui: ele não deve ser cego de nascença.
Sempre tive esse preconceito em relação aos cegos. Para mim há os cegos revoltados (aqueles que um dia puderam enxergar) e os cegos conformados (aqueles que nunca experimentaram a visão). Aquele, do ponto de ônibus, certamente se enquadrava na classe dos revoltados.
É ridículo... É ridículo como nós simplificamos o mundo inventando categorias, não é? É... Mas isso tem e teve seu valor. Permitiu-me ver que aquele descuido, aquele prazer estranho, aquele ódio contra o megafone era a resposta de um roubo, de uma perda. A perda da visão. Sim! Aquele não era um cego de nascença!

Histórias do ponto I

A aflição de ontem veio de uma pomba. Ela estava cega e não conseguia voar. Talvez sua asa também estivesse com algum problema. Ou será que pombas cegas não estão habilitadas a voar mesmo tendo as asas preservadas? Não sei. O negócio é que a pomba não voava e estando no canteiro de uma avenida movimentada de Campinas, corria risco de ser atropelada, porque de quando em quando andava pela pista. Eu, no ponto de ônibus. Olhando angustiado a pomba errante, transitando em meio aos carros. Pronto. Vai ser esmagada e eu vou ver tudo, pensei. Na verdade, queria que ela morresse, mas não queria participar disso. Nem eu, nem ninguém que estava no ponto. Mas ela merecia morrer.
Se bem que os veterinários talvez pudessem dar um jeito nela, ou então proporcionar-lhe uma morte digna. Morte digna... Estou enchendo lingüiça... Não estava e nem estou nem aí para aquela pomba (ainda que ela tenha me dado essa história). Só não queria participar daquilo.