quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fase-Feio

Estou na fase-feio. Vocês que não foram agraciados com a beleza das formas, talvez me entendam. Estou naquela fase de correr do espelho, sabe? Aquela fase de achar que o dente é grande demais, que o nariz poderia ser um pouquinho mais fino e que as orelhas não precisavam ter prosperado tanto para as laterais. Estou na fase do desassossego.
Sintoma disso é que ontem, me vieram à memória os tão adoráveis apelidos de infância!
- E aí, castor? Topo Gigio! Topo Gigio!
Ah! Como meu coração se enchia de alegria! Como era estimulante ser comparado a animais desajeitados, personagens bizarros!
Pois é... Na fase-feio, essas feridas retornam com toda intensidade. Esses pequenos traumas... É que na fase-feio a memória trabalha contra, meus amores! Ela seleciona episódios, deleta elogios e destaca constrangimentos. Tudo isso para nos deixar com a sensação de sermos mais feios ainda.
Trata-se, sem dúvida, de um círculo vicioso, uma roda que só gira em direção ao buraco. Feio! Feio! Feio!
Quando estou nessa fase, o melhor a fazer é... Năo há nada a fazer. Na verdade, o melhor é esperar. Aí os dias passam, as tardes caem, e de repente, em uma manhã qualquer, a fase-feio acaba.
Pelo menos é assim que tem acontecido comigo.
Ah! É bom que se diga! Você que se encontra em situação parecida... Não tente apelar para os auto-elogios em profundidade. Não tente, por exemplo, se convencer de belezas interiores, de virtudes morais ou de proezas do intelecto. Năo adianta!
Na fase-feio, tudo isso é nada! Todos esses remendos metafísicos são nada! Na fase-feio, o melhor a fazer é dar um tempo da própria imagem, deixar de olhar um pouco para si, e aí torcer para que um novo olhar tenha lugar.

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