quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O coisa

- ... ô coisa.
Foi assim que ela se referiu a mim, em meio aos risos frenéticos do bar. Tive vontade de responder: Coisa? Coisa é a senhora!
Não fiz isso. Até porque, muitas vezes, me pego sendo paranóico. Agi, então, como um não-paranóico – o que acaba sendo a mesma coisa, em um certo sentido. O não-paranóico decide não-dizer nada para não-parecer paranóico. Ótimo! O problema é que a paranóia permanece lá, intacta, em cada olhar, em cada escuta. E foi isso mesmo que aconteceu, no resto da noite. Eu de orelha em pé, pronto para capturar qualquer fala, qualquer olhar que confirmasse a minha impressão de que o outro me via como coisa. Que coisa? Não importa.
O que deu mal estar foi o tom, a entonação com que aquela senhora se referiu a mim. Logo aquela senhora... Ao dizer isso, percebo que a considerava bastante, porque o que ela disse me afetou profundamente, embora reconheça também que qualquer um que me chamasse de coisa ia me deixar contrariado.
Será? Não sei. Não andam me chamando de coisa por aí.
- ... ô coisa.
Não posso - ainda bem - dizer que a palavra do outro me toma por inteiro, mas é inegável que ela me embaraça. O que quero dizer é que, se amanhã alguém me chamar de homem aranha, não vou achar que tenho (ou devia ter) teia nas veias do braço.
Não sou louco! Nem sei se a loucura é isso. Mas que "o coisa" me pegou, pegou. Só não sei qual foi o lugar.

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